sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Noticias de Maputo


No momento estou em Moçambique, mais precisamente em um hotel na avenida 24 de julho, em Maputo. Aqui já nos aproximamos das 10 horas da manhã e isso me faz lembrar que em São Paulo os relógios se aproximam das 5.
As notícias do mundo não são muito boas. Os escândalos da taxa Libor parecem buscar caminhos para as manchetes dos jornais e a crise se alonga, por entre os dentes ferozes da corrupção, enquanto a policia sul africana mata dez mineiros num confronto de resultados inexplicáveis para o pós apartheid.
Num olhar rápido sobre a cidade o que observo é que as ruas estão mais limpas, as máquinas estão presentes em algumas delas refazendo o asfalto e diminuindo o aspecto lunar das pistas de rolamento, os vendedores de rua – quase sempre insistentes – diminuíram em número e incisividade enquanto a mais nova empresa de telefonia celular parece ganhar legitimidade (uma joint-venture entre a FRELIMO e uma empresa vietnamita) pela qualidade dos serviços, os edifícios públicos vão tomando conta da paisagem tanto na cidade baixa quanto nas grandes avenidas (como a 24 de Julho e a Julius Nyerere), tornando a presença do Estado algo mais e mais ostensivo e, por fim, a quantidade de automóveis se multiplicou exponencialmente e, com eles, um trânsito caótico onde pedestres e automóveis se confundem, as calçadas tornaram-se estacionamentos públicos, os motoristas nervosos gritam, buzinam, questionam-se uns aos outros e a vida segue como se nada muito grave esteja acontecendo.
Enquanto isso, já no seu último dia, meu curso de teoria e método foi se realizando. Trata-se, sempre, de uma experiência carregada de surpresas (de ambos os lados) e muito exigente. A ausência da bibliografia e do hábito sistemático da leitura acadêmica transforma o curso em algo tenso e maravilhoso onde as emoções e a experiência de vida de cada um de nós vai se transbordando para dentro do debate. Preciso incorporar o espírito de Mia Couto para contar tal aventura e, ao que parece, ele não está disponível.
Dentro de mais alguns dias tudo vai recomeçar na cidade da Beira. Outros alunos, outras culturas, outras emoções. Não me recordo de ter experimentado, em quaisquer outros trabalhos que tenha realizado, tanto cansaço ao final de cada aula e, ao mesmo tempo, tendo produzido tanto... Trata-se da minha antinomia pessoal.

3 comentários:

  1. Meu querido amigo!
    Eu consigo imaginar a intensidade das descobertas e das emoções. Visualizo alunos, alunas e professor, cheios de sangue nos olhos, esbugalhados pela ansiedade em conhecer, descobrir e criar entendimento sobre... a geografia...
    muita saudade e lhe desejo tudo do melhor!

    Um fortíssimo abraço

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  2. Salve! Hoje começamos um novo curso. Segundo soube são 25 alunos. Espero que consigamos trabalhar com algum êxito.
    Abraços

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  3. Por uma Geografia do cotidiano! Olhar pelo vidro do carro ou do ônibus a vida urbana... Geografia com filosofia e arte!

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