No momento estou em Moçambique, mais precisamente em um
hotel na avenida 24 de julho, em Maputo. Aqui já nos aproximamos das 10 horas
da manhã e isso me faz lembrar que em São Paulo os relógios se aproximam das 5.
As notícias do mundo não são muito boas. Os escândalos da
taxa Libor parecem buscar caminhos para as manchetes dos jornais e a crise se
alonga, por entre os dentes ferozes da corrupção, enquanto a policia sul
africana mata dez mineiros num confronto de resultados inexplicáveis para o pós
apartheid.
Num olhar rápido sobre a cidade o que observo é que as ruas
estão mais limpas, as máquinas estão presentes em algumas delas refazendo o
asfalto e diminuindo o aspecto lunar das pistas de rolamento, os vendedores de
rua – quase sempre insistentes – diminuíram em número e incisividade enquanto a
mais nova empresa de telefonia celular parece ganhar legitimidade (uma joint-venture
entre a FRELIMO e uma empresa vietnamita) pela qualidade dos serviços, os
edifícios públicos vão tomando conta da paisagem tanto na cidade baixa quanto
nas grandes avenidas (como a 24 de Julho e a Julius Nyerere), tornando a
presença do Estado algo mais e mais ostensivo e, por fim, a quantidade de
automóveis se multiplicou exponencialmente e, com eles, um trânsito caótico
onde pedestres e automóveis se confundem, as calçadas tornaram-se
estacionamentos públicos, os motoristas nervosos gritam, buzinam, questionam-se
uns aos outros e a vida segue como se nada muito grave esteja acontecendo.
Enquanto isso, já no seu último dia, meu curso de teoria e
método foi se realizando. Trata-se, sempre, de uma experiência carregada de
surpresas (de ambos os lados) e muito exigente. A ausência da bibliografia e do
hábito sistemático da leitura acadêmica transforma o curso em algo tenso e
maravilhoso onde as emoções e a experiência de vida de cada um de nós vai se
transbordando para dentro do debate. Preciso incorporar o espírito de Mia Couto
para contar tal aventura e, ao que parece, ele não está disponível.
Dentro de mais alguns dias tudo vai recomeçar na cidade da
Beira. Outros alunos, outras culturas, outras emoções. Não me recordo de ter
experimentado, em quaisquer outros trabalhos que tenha realizado, tanto cansaço
ao final de cada aula e, ao mesmo tempo, tendo produzido tanto... Trata-se da
minha antinomia pessoal.
Meu querido amigo!
ResponderExcluirEu consigo imaginar a intensidade das descobertas e das emoções. Visualizo alunos, alunas e professor, cheios de sangue nos olhos, esbugalhados pela ansiedade em conhecer, descobrir e criar entendimento sobre... a geografia...
muita saudade e lhe desejo tudo do melhor!
Um fortíssimo abraço
Salve! Hoje começamos um novo curso. Segundo soube são 25 alunos. Espero que consigamos trabalhar com algum êxito.
ResponderExcluirAbraços
Por uma Geografia do cotidiano! Olhar pelo vidro do carro ou do ônibus a vida urbana... Geografia com filosofia e arte!
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