terça-feira, 24 de janeiro de 2012

PAISAGEM, TERRITÓRIO, REGIÃO




 Você partiu
Para ver outras paisagens
E o meu coração embora
Finja fazer mil viagens
Fica batendo parado
Naquela estação....
(Adriana Calcanhoto)

De que serve a tarde?
Inutil paisagem...

Apresentação
Trata-se de um texto que busca sistematizar um curso. Nada, a princípio, diz que tal texto será usado se algum dia o curso vier a se repetir. O objetivo não é este. O que pretendo é ampliar um exercício que fiz numa sala de aulas de graduação. Lá teve a graça de poder contar com os alunos, suas dúvidas, seus silêncios, suas conclusões. Aqui o interlocutor é um leitor genérico que tenho em minha imaginação. Certamente ele não existe e, portanto, sua maleabilidade depende de como sou capaz de enxergá-lo na construção de cada parágrafo. Pensar num leitor é fundamental para a construção de um texto, mas isso não torna tudo menos arbitrário que o texto de qualquer outro autor, com qualquer outro leitor, em qualquer outra circunstância.
Passo a passo, aula a aula, texto a texto e, portanto, citação a citação, a classe que me surge à mente neste texto não é muito distante daquela com a qual vivi por alguns meses. Não é distante, mas não é a mesma. No caso presente não há muito a conceder, não há silêncio a se respeitar, não há perplexidade a se deixar de lado. O exercício, portanto, tem o objetivo do mergulho conceitual que uma classe hipotética permite a um professor. Assim foi pensado... assim está sendo construído.
Para a construção do texto vale, ainda, algumas explicações de ordem “mais-ou-menos” técnica.
O curso foi realizado na ordem e com a bibliografia apresentada no quadro abaixo. Aula a aula, fomos procurando ler e compreender o que diziam os autores e, gradativamente, desvendando o significado das palavras, dos parágrafos ou, ainda, a ausência de qualquer significado para além de um geralmente bem montado jogo de palavras.
Disciplina: Paisagem, território e região
Semestre: 1º .
Período: 5º.
Núcleo responsável: NA
Créditos: 4
Carga horária Total: 72 horas/aula
Departamentos Envolvidos: Geografia
Ementa
Desenvolvimento da construção conceitual em torno das categorias: paisagem, território e região e a articulação entre tais categorias e seus significados no processo de produção do conhecimento geográfico.
Objetivos
– Exercitar a relação entre o domínio das categorias e a construção conceitual a elas subjacentes;
– Entender o significado do conceito na produção do conhecimento;
– Reconhecer os fundamentos do estatuto epistemológico da Geografia;
– Exercitar o significado a relação entre aparência e essência na produção do discurso geográfico.
Temas centrais
– A origem das categorias e as construções conceituais que identificam os significados de paisagem, território e região;
– A articulação conceitual e a produção do discurso geográfico.
Avaliação
Caderno com anotações de aula e comentários pessoais – entrega na 16ª aula via e-mail (dsantos@pucsp.br) (colocar em discussão o material para a semana de sistematização)
Aula
Conteúdos e procedimentos
1.
Apresentação do curso – a relação entre categorias e conceitos – o curso como um exercício de construção conceitual
2.
A Fisionomia da Paisagem – Jean-Marc Besse
3.
A Fisionomia da Paisagem – Jean-Marc Besse
4.
O Território e o Poder – Claude Raffestin
5.
Definindo território para entender a desterritorialização – Rogério Haesbaert
6.
Definindo território para entender a desterritorialização – Rogério Haesbaert
7.
Metamorfoses do espaço habitado – Milton Santos
8.
Região e organização espacial – Roberto Lobato Corrêia – Roberto Lobato Correia
9.
Paisaje e Región: una aproximación conceptual y metodológica. Aurora Garcia Ballesteros (org.)
10.
Dos modos de produção às regiões – Alain Lipietz
11.
Da Região, à Rede, ao Lugar – Ruy Moreira
12.
Da Região, à Rede, ao Lugar – Ruy Moreira
13.
Região: conceito obstáculo - Lacoste
14.
Paisagem, território e Região – fechamento do curso
15.
Paisagem, território e Região e cartografia – fechamento do curso
16.
Fechamento do Caderno – avaliação do curso
17.
Semana se sistematização
18.
Semana se sistematização
Bibliografia
CAPEL, H. Ramas en el árbol de la ciencia. In: Actas de las II Jornadas Dobre España y las expediciones científicas en América y Filipinas. Barcelona: Ed. Doce Calles, s/d.
CROSBY, A. W. Imperialismo ecológico. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
BALLESTEROS, A. G. (org). Teoria y Práctica de la Geografía. Madri: Alhambra, 1986
BESSE, J.M. Ver a Terra. São Paulo: Perspectiva, 2006
HAESBAERT, R. O mito da desterritorilização. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006
HUMBOLDT, A. de, Quadros da Natureza vol. I. São Paulo: Cosmos, Clássicos Jackson, vol XXXIV, 1950
LACOSTE, Y. A Geografia, isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. São Paulo: Papirus, 1988
LIPIETZ, A. O Capital e seu Espaço. São Paulo: Nobel, 1988
MENDONZA, et al. El Pensamiento geográfico. Madri: Alianza Ed., 1992.
MOREIRA, R. Para Onde vai o Pensamento Geográfico. São Paulo: Contexto, 2006
RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993
SANTOS, M. Metamorfoses do Espaço Habitado. São Paulo: Hucitec, 1988
­­­­­­­­­­­___________ Espaço & Método. São Paulo: Nobel, 1985







 
O esforço, por parte dos alunos, foi considerável. Ler palavra por palavra, comparar parágrafos, apontar incongruências, identificar “frases de efeito”  tendo como parâmetro principal, a cada passo, a seguinte pergunta: o que será que o autor quis dizer quando escreveu este parágrafo ou capítulo ou, mesmo, uma simples palavra?   
Tais embates levaram alguns alunos, no final, a considerarem que, mesmo ainda confusos quanto ao significado das categorias discutidas, o curso lhes havia servido para aprender a ler. Confesso que fiquei feliz com tal resultado. Do ponto de vista de um curso de graduação, aprender a ler é um objetivo de suma importância e profundamente difícil de ser alcançado.
Um aspecto ainda precisa ser realçado: a forma pela qual os alunos foram avaliados e como tal material, vez ou outra, será usado neste texto. Tal como costumo fazer com os cursos onde o debate e a reflexão estejam no centro dos interesses (considerando os cursos que dou, é a maioria), a avaliação é feita a partir da elaboração, por parte dos alunos, de um caderno. Aula após aula, tendo como ponto de partida as anotações no quadro de giz, eles devem desenvolver em casa um caderno de notas, refletindo sobre o significado das aulas, o que aprenderam, o que não aprenderam, que perguntas gostariam de ter feito e não fizeram e assim por diante. Ao final do curso, hoje em dia usando o formato eletrônico, eles devem me apresentar seus cadernos e é da leitura desse material que apresento o resultado das avaliações. Pois bem... não tenho a intenção aqui de discutir os fundamentos pedagógicos desse encaminhamento. O certo é que tais cadernos, hora ou outra, serão citados no interior do texto e, assim, espero, tenha conseguido manter algum diálogo mais direto com alunos reais ou, pelo menos, o que imagino que exista de realidade nos textos que eles me entregaram.
Chamo, ainda, a atenção para o fato de que, ao final, apresento uma nova bibliografia, um pouco mais longa que a apresentada no quadro do “plano de curso”. Isso se deve ao fato de, na sala de aulas, a bibliografia projetada para o curso se mostrou, vez ou outra, insuficiente. Perguntas feitas, proposições apresentadas, tentativas de respostas e o calor dos debates foram colocando temas que não consegui prever com antecedência. Por fim, vale sempre lembrar, um texto não é uma aula e, ao ser elaborado, a presença de outros autores em função de reflexões não desenvolvidas em sala de aula, foi se tornando uma exigência que, não cumprida, inviabilizaria o próprio texto o próprio exercício.
Por fim, dividi o texto em uma introdução (que faria o papel da primeira aula) e três capítulos, uma para cada categoria sendo que, dentro de cada um deles, subdividi de acordo com os autores que foram usados no curso. A bibliografia complementar e os debates dai gerados estarão no interior da divisão estrutural do curso. Optei por este caminho, mesmo que em alguns momentos a proposição original tenha se mostrado mais um obstáculo que um caminho (como diria o poeta: no meio do caminho tem uma pedra no meio do caminho tem uma pedra...), preferi transformar o obstáculo em caminho e, assim, acho, respeitar um de meus poetas mais amados.

Na proxima semana coloco mais uma parte do texto.
Abraços a todos.

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