quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

PRÁTICA DE ENSINO EM GEOGRAFIA


Tal como os textos relacionados ao tema: Paisagem, Território e Região, este também é fruto dos muitos cursos que ministrei. A diferença está no fato de terem sido oferecidos aos alunos de especialização em ensino de Geografia e não aos de graduação.
No ritmo das possibilidades (esses textos, infelizmente, são escritos nos intervalos dos compromissos com as aulas, a editora do Brasil, a editora Abril, os cursos de Moçambique e, vez ou outra, o direito de tomar uma cerveja no final de semana) aqui, também, tentarei reproduzir as aulas que ministrei e fragmentos de textos apresentados por alunos.
A base geral dos textos tem por bibliografia a mesma que se encontra no quadro do curso. Novos textos serão citados no transcorrer e referenciados diretamente (não haverá uma bibliografia no final dos texto, considerando o fato de que todos eles serão publicados de forma fragmentária, seguindo, da melhor maneira possível, o formato dos blogs.

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE GEOGRAFIA – PUC/SP

INTRODUÇÃO
As práticas do ensino de Geografia tornaram-se motivo de debates intensos e reflexões há, pelo menos, três décadas e, nesse percurso, temos amadurecido nossos posicionamentos. Em linhas gerais pode-se resumir o processo nos seguintes termos:
·  Entre os anos 70 e meados dos 80 tivemos como foco central o repensar dos conteúdos que identificam nossa disciplina. Nesse período, identificamos o estreito relacionamento entre nossos desenvolvimentos temáticos e os fundamentos do pensamento de cunho funcionalista além da estreita relação entre tal posicionamento e a defesa subjacente aos interesses de Estado e das classes dominantes (como já foi denunciado por Lacoste, Moreira e Santos)
·  No transcorrer dos anos 80 até o início dos 90 verificamos a insuficiência de nossas críticas, na medida em que o reordenamento dos conteúdos não interferiu, diretamente, numa melhor qualificação dos processos de ensino-aprendizagem desenvolvidos por nossos professores. Nesse período procuramos identificar os vínculos possíveis entre as novas leituras e as discussões de ordem pedagógica que, normalmente, se relacionam aos primeiros anos do ensino fundamental.
·  Por fim, a partir do final dos anos 90, verificamos que, para além de uma discussão que buscasse o vínculo entre os conteúdos propostos e as leituras pedagógicas, carecíamos de um maior aprofundamento sobre o significado da própria instituição escolar. Tal constatação se dá na medida em que os problemas relacionados ao ensino de nossa disciplina são, na verdade, comuns a toda a prática escolar. É, justamente, esse o momento pelo qual passamos e é com tais preocupações que o presente curso se realiza.
OBJETIVOS GERAIS DO CURSO E SISTEMA DE AVALIAÇÃO
Com o objetivo de colocar em evidências as relações propostas na INTRODUÇÃO o curso terá como foco principal a identificação do significado da Geografia no processo de ensino-aprendizagem. Para tanto procuraremos evidenciar as estruturas lógicas subjacentes à produção do pensamento geográfico e, com elas, o significado de tal aprendizagem no processo de desenvolvimento cognitivo do educando.
Para fins de avaliação os alunos devem apresentar ao final do curso, em formato eletrônico e dirigido ao endereço dsantos@pucsp.br um caderno de anotações  contendo os conteúdos ministrados em aula e os comentários pessoais que porventura o aluno considerar pertinente. Será considerado completo o caderno que contiver anotações e comentários de todas as aulas efetivamente ministradas.
Aula
Temário central
  1.  
Apresentação do curso. Linguagem e conhecimento. As linguagens da Geografia
  1.  
Linguagem e lógica. Geografia e lógica. A ordem topológica. O aprender e o ensinar Geografia. Alfabetizar em Geografia. O desenvolvimento das estruturas lingüísticas nos ensinos: fundamental, médio e superior; a relação entre o domínio dos conteúdos e o desenvolvimento cognitivo.
  1.  
 O que se ensina e o que se aprende: a diferença entre conteúdo e objetivo pedagógico. Conteúdo, avaliação e ressignificação das estruturas discursivas Geografia como disciplina escolar
  1.  
A Geografia na primeira fase do ensino fundamental (1o. ao 5o. anos)
  1.  
A Geografia na segunda fase do ensino fundamental ( 6o. ao 9o. anos)
  1.  
A Geografia na segunda fase do ensino fundamental (6o. ao 9o. anos)
  1.  
A Geografia no ensino médio
  1.  
O que falta discutir. Avaliação final do curso.
Bibliografia
Bachelard, Gaston, escreveu, entre outras muitas obras, “A Formação do Espírito Científico” publicada no Brasil em 1996 pela editora Contraponto do Rio de Janeiro. Tal obra nos traz uma profunda reflexão sobre o processo de construção do conhecimento humano e trata-se de um livro de leitura obrigatória para quem se interessa pelo assunto.
Burtt, Edwin, escreveu “As Bases Metafísicas da Ciência Moderna”, editado pela Universidade de Brasília, Brasília, em 1991. Trata-se de um texto da maior importância para quem quiser refletir sobre o significado da matemática no desenvolvimento da ciência até o Iluminismo. Para um maior aprofundamento em relação à Matemática e à Física indicamos a leitura dos capítulos referentes a Copérnico, Descartes e Newton.
Carvalho, Marcos B. autor de “O que é Natureza” – publicado na coleção Primeiros Passos da Ed. Brasiliense, coloca em evidência o fato de que o que entendemos por Natureza é, na verdade, uma construção social. Apontando o sentido dessa expressão em diversos momentos históricos veremos que cada sociedade, dependendo dos interesses que a hegemonizam, entendem Natureza de uma forma específica.
Changeux, Jean-Pierre e Connes, Alain escreveram Matéria e Pensamento, publicado pela Editora Unesp, São Paulo, em 1996 – Trata-se de um diálogo entre um biólogo (o primeiro) e um matemático. A leitura do primeiro capítulo (págs. 11 a 34) nos permitirá identificar a profunda polêmica existente sobre o papel e o significado da matemática. A posição de que a matemática é uma linguagem é discutida com alguma riqueza de detalhes nesse livro.
Crosby, Alfred W. em seu livro “Imperialismo Ecológico”, editado pela Companhia da Letras em 1993, traça um interessante perfil do processo de colonização levado a cabo pelos Europeus realçando os aspectos ecológicos do processo. O subtítulo do livro é suficientemente esclarecedor: “A expansão Biológica da Europa: 900-1900”. Consideramos que se trata, para quem quer se aprofundar nas discussões sobre o significado do processo expansionista europeu do ponto de vista ambiental, um livro de leitura obrigatória.
Freinet, Célestin, escreveu “O Método Natural”, publicado em língua portuguesa pela Editorial Estampa, de Lisboa, em primeira edição no ano de 1977, em três volumes distintos. No primeiro o autor trata da aprendizagem da língua, no segundo da aprendizagem do desenho e, no terceiro, da escrita. A obra de Freinet causou, desde seus primórdios, intensas polêmicas entre os educadores, mas, podemos afirmar, paulatinamente ela foi se consolidando tanto na forma de publicações de cunho acadêmico quanto pelo surgimento de escolas, espalhada por diversos países, inclusive o Brasil, inspirada em seus ensinamentos. Os três volumes d”O Método Natural” constituem a base de toda a sua obra e merecem serem lidos e discutidos em profundidade. Chamamos a atenção para o segundo volume (a aprendizagem do desenho) de onde retiramos alguns pensamentos inspiradores na discussão sobre o papel da cartografia no processo de ensino-aprendizagem.
É dele, também, As técnicas Freinet da Escola Moderna –– Ed. Estampa Lisboa – 1975, um pequeno volume de bolso que sintetiza algumas de suas principais idéias.
Freire, Paulo é o autor da obra A Importância do Ato de Ler em três artigos que se completam – publicada pela Ed. Cortêz de São Paulo que em 1994 já estava em sua 29ª edição. Nessa obra Paulo Freire redimensiona o significado de “ler” ampliando, igualmente, a noção de linguagem.
Harper, Babette et alli escreveram “Cuidado, Escola: Desigualdade, Domesticação e Algumas Saídas”. Apresentado por Paulo Freire (equipe do IDAC)  e editado no Brasil pela Ed. Brasiliense, 19ª ed. 1985, S Paulo. Trata-se de uma das publicações mais importantes sobre o significado de escola que dispomos no Brasil. Escrita para leigos, é de leitura obrigatória tanto para alunos quanto para professores.
Marx, Karl é, sem dúvida, um dos mais referenciados e polêmicos autores dos últimos duzentos anos, já que, contra ou a favor, uma parcela considerável de toda a produção intelectual, desde meados do século XIX, de alguma maneira se referencia em sua obra. Indicamos uma publicação em espanhol denominada “Elementos Fundamentales para a Crítica de la Economía Política (Grundrisse) 1857~1858” e publicada pela editora Siglo Veintiuno Editores de Madri (a edição que dispomos é de 1986). No Brasil a ed. Martins Fontes, de São Paulo, publicou em 1983 (em Segunda Edição) uma parte dessa obra com o título de “Contribuição à Crítica da Economia Política”. O texto que nos permite observar as reflexões de Marx sobre a construção do “concreto em pensamento” está publicado nessa edição e se encontra entre as páginas 218 e 226.
Olson, David R. escreveu O Mundo no Papel, publicado no Brasil pela Ática, São Paulo, em 1997. Nesse trabalho o autor procurou identificar o significado da leitura e da escrita na construção da inteligência humana. Não indicaremos, aqui, alguma página específica que poderia ser considerada de interesse maior que outras: vale ler o livro inteiro.
Souza Santos, Boaventura de; é o autor de uma obra intitulada “A Crítica da Razão Indolente – contra o desperdício da experiência” publicada no Brasil pela editora Cortez, de São Paulo, no ano 2000. Souza Santos é um dos mais conhecidos e influentes sociólogos portugueses contemporâneos. Autor de uma vasta obra que procura refletir desde temas como “Pós-modernidade” até o significado do conhecimento científico em nossa época, a obra aqui citada possui duas características que devem ser realçadas: A primeira refere-se ao fato do autor procurar colocar em questão o tipo de conhecimento que foi sendo construído, principalmente pelas sociedades ocidentais, a partir do renascimento e, o segundo, o fato de ter escolhido a cartografia como uma ferramenta eficaz para a reestruturação de nossa maneira de pensar o mundo (o papel da cartografia no processo de ensino-aprendizagem é tema de item específico).
Szamosi, Gésa, escreveu “Tempo & Espaço, As Dimensões Gêmeas”, editado pela Jorge Zahar Editores, Rio de Janeiro, em 1988,  onde principal objetivo é demonstrar que é o tipo de vida e as condições biológicas que definem tais percepções e, dessa maneira, a capacidade humana de pensar, falar e escrever é determinante no desenvolvimento de nosso entendimento do que seja o mundo em que vivemos. Nos dois primeiros capítulos, o autor procura identificar o sentido geral da evolução biológica e suas relações com as percepções de tempo e espaço e a leitura dessa parte do livro pode nos ajudar a compreender o sentido do processo de ensino-aprendizagem – mesmo que esse não seja o objetivo específico do texto – na medida em que se evidencia o papel da linguagem na construção do pensamento.
Vigotski, L. S, escreveu “Pensamento e Linguagem”, editado pela Martins Fontes, São Paulo, em 1999. É um texto que deve ser lido integralmente já que o autor é, hoje, reconhecidamente, um dos mais influentes personagens do debate sobre o processo de ensino-aprendizagem.
Também usamos como referência um outro livro do mesmo autor denominado “A Formação Social da Mente” editado pela Martins Fontes, São Paulo, em 1998. Nele encontraremos um amplo conjunto de textos tratando, além de questões fundamentais da psicologia infantil, de questões básicas da relação ensino-aprendizagem. Chamamos especial atenção para essa segunda parte, já que categorias fundamentais, tais como “zona de desenvolvimento proximal”, são ali discutidas com riqueza de detalhes.
Whitrow, G. J. escreveu o livro “O Tempo na História” editado no Brasil pela Jorge Zahar Editores, do Rio de Janeiro em 1993. Nele encontraremos uma série muito interessante de reflexões sobre o significo de “tempo” da pré-história até nossos dias. Esse texto está aqui citado, no entanto, para fazer referência às reflexões do autor sobre o papel da linguagem oral e escrita que encontraremos nas págs. 36 a 38 e que valem a pena serem lidas.

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