Retomemos algumas proposições. A primeira,
de caráter fundamentalmente antropológico e político,
diz respeito ao papel da escola moderna e
contemporânea como uma forma de proporcionar,
às novas gerações, a possibilidade de superar os
ensinamentos aprendidos no seio da família e da
comunidade, oferecendo-lhes saberes necessários
para se viver no mundo.
A segunda, de caráter essencialmente pedagógico,
refere-se ao fundamento contraditório do
processo de aprendizagem: o que aprendemos
contrapõe-se àquilo que julgamos já ser conhecido.
Assim, todo saber novo nos provoca, de
alguma maneira, um desequilíbrio e exige que
tenhamos a disponibilidade de superar verdades
que pareciam consolidadas.
A terceira proposição é relativa ao processo que
nos leva da infância à maturidade e que deve ser
levado em conta pela escola. Os novos saberes propostos
nos primeiros anos do Ensino Fundamental
devem ter estruturas muito diferentes daqueles
que se referem ao Ensino Médio. Por exemplo, nos
primeiros anos da escola um objetivo a ser alcançado
é o de ampliar o reconhecimento simbólico
do mundo – apropriação de novas palavras, novas
linguagens e novos símbolos. No Ensino Médio, o
objetivo é nos apropriarmos de novas informações
a fim de construirmos e reformularmos conceitos.
Levando tudo isso em consideração, podemos
afirmar que, quando nos dedicamos às crianças, o
importante é que consigam olhar para o mundo, reconhecer
o que observam, identificar e se apropriar
do nome de cada coisa e alguns dos adjetivos básicos
que as qualificam. É preciso, ainda, que reconheçam
distâncias e posições relativas entre objetos
e, por fim, que concebam ou imaginem os processos
que estão vinculados às relações entre cada uma
das coisas reconhecidas. Por isso mesmo, nessa fase
é fundamental aprender a descrever e, com isso,
construir conceitos que carreguem de significado o
que foi descrito. Por fim, vale lembrar que tais descrições
devem fundir o desenho ao mapa e o mapa
ao
texto, construindo leituras com diferentes estruturas
linguísticas
que realçam aspectos particulares
de
cada um dos processos estudados.
No
entanto, quando nos referimos ao Ensino Médio
–
como é o caso desta coleção –, outras serão as tarefas,
porque
outros são os objetivos pedagógicos que
devem
definir nossos procedimentos, tanto no momento
de
apresentar e discutir conteúdos como quando
temos
de desenvolver procedimentos de avaliação.
Há,
ainda, os interesses diversos dos jovens
nessa
idade escolar. Provavelmente a expressão
“média”
toma todo o seu sentido quando imaginamos
que
os alunos, nessa faixa de idade – com
todas
as exceções de praxe –, veem sua presença
no
Ensino Médio como um momento de passagem
e,
muitos, como um entrave a ser superado na
conquista
do emprego ou do vestibular.
Precisamos
ficar atentos ao fato de que o ensino
de
Geografia para esses jovens exige que ordenemos
os
conteúdos de tal maneira que eles estejam,
sempre,
relacionados entre si, ampliando cada vez
mais
o conjunto de variáveis necessárias à compreensão
dos
fenômenos.
Mais
do que isso, mesmo que consideremos
procedimentos
descritivos como exigência do Ensino
Médio,
estes devem estar a serviço da construção
de
conceitos, que devem se dirigir à difícil
tarefa
de sistematizar as múltiplas determinações
que
constituem a geograficidade do mundo.
Então,
nossa tarefa é identificar o lugar em que
vi
vemos, articulando determinações próximas,
que
constituem o entorno de nossos ambientes,
e
determinações longínquas, que garantem que
os
lugares em que vivemos sejam influenciados,
num
sistema de redes, por muitos outros lugares
do
mundo, do Sistema Solar, do Universo, enfim.
Construindo
uma cadeia de determinações, o
processo
a ser conquistado no Ensino Médio deve
nos
levar à reconstrução constante dos conceitos,
na
qual o domínio de determinadas informações,
em
vez de nos levar a verdades acabadas, permitam
a
construção de novas dúvidas e, com isso,
nos
estimulem na busca de novas informações,
possibilitando
a revisão das conclusões que já haviam
sido
conquistadas.
Esses
são os objetivos relacionados ao preparo,
à
aplicação e à reflexão das avaliações. Mesmo
quando
se faz necessária a verificação do domínio
de
uma informação, é fundamental que ela esteja
sempre
associada a um processo.
O
processo avaliativo deve, ainda, apoiar-se
no
uso da maior variedade possível de linguagens
–
propor questões com uso de mapas, fotos, poemas
e
filmes, por exemplo –, assim como estimular
a
construção de respostas que façam uso
desses
recursos.
Como
se trata de jovens e adultos, as soluções
para
os problemas da vida cotidiana exigem imaginação,
disponibilidade
afetiva e relações de caráter
puramente
subjetivos. Assim, estimular a observação
e
o uso das diferentes manifestações artísticas,
associando
temas geográficos à produção e sistematização
do
imaginário, é um caminho extremamente
profícuo.
Devemos
evitar que os preconceitos e o pensamento
maniqueísta
tomem conta de nossas
avaliações:
é preciso que as razões do “acerto”
e
do “erro” sejam discutidas. Isso nos permite
identificar
o que pode existir de “certo” na resposta
errada
e o que pode existir de “engano” na
resposta
correta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário