terça-feira, 24 de junho de 2014

Nas origens da Geografia


A Geografia nasce muito mais como um comportamento
do cotidiano do que como uma disciplina
ou um campo específico de conhecimento.
Saber onde se está é uma necessidade de todos os
povos em todos os momentos da história humana.
Evidentemente que este “saber onde se está”
tem, em cada época e para cada povo, uma dimensão
diferente, isto é, se estivéssemos procurando
nos localizar em sociedades de caçadores-coletores,
teríamos de saber nos deslocar pelo espaço de
forma a encontrar alimentos. Seria igualmente importante
sabermos como nos distanciar e retornar a
nosso grupo, cuidando para que não nos transformássemos
em caça de outros animais. Essas seriam
as referências que nos ajudariam a tomar decisões.
Por outro lado, essa mesma questão toma características
diferentes entre criadores-plantadores e, no
limite de nossas experiências, podemos imaginar que
a mesma pergunta exige outras referências daqueles
que vivem nas grandes metrópoles do mundo.
Nem nossos antepassados, nem nossos contemporâneos,
quando procuram se localizar, necessariamente
estão cientes de que estão se propondo e
resolvendo questões que denominamos geográficas.
Acontece, no entanto, que é esse conjunto de
questões que, entre os gregos, foi denominado de
Geografia. Em outras palavras, os gregos usaram
essa expressão intuindo que:
o mundo apresenta uma “geograficidade”, isto
é, a posição ou localização relativa de objetos e
situações é determinante na definição do significado
que têm em nossas vidas. Identificar
o que está perto ou distante, à direita ou à esquerda,
à frente ou atrás, acima ou abaixo é reconhecer
e conseguir avaliar as disponibilidades,
os riscos, as condições de cada fenômeno
em relação a nós mesmos;
é necessário, portanto, construir um discurso
geográfico, isto é, quando falamos, escrevemos,
desenhamos e cartografamos a localização relativa
de objetos e situações, conseguimos refletir
sobre eles, identificar com mais clareza seus
significados, interferir direta ou indiretamente
nos efeitos que podem nos trazer;
por fim, desde os povos mais primitivos e as referências
sistematizadas na Antiga Grécia, que
ficaram identificadas como Geografia, até hoje,
fomos construindo formas de abordagem que
nos ajudam, cada vez mais, a reconhecer a geograficidade
do mundo e sistematizá-la em atlas,
livros, fotografias, desenhos e todas as demais
formas que possam nos ajudar a responder a
nossos dilemas, cuja pergunta fundamental é:
“Onde estou?”. Assim, construímos uma tradição,
um campo do conhecimento humano, e a
ele demos o nome de Geografia.
Com tais ideias, poderemos, facilmente, compreender
por que devemos ensinar Geografia:
trata-se de se apropriar e desenvolver uma grande
tradição, necessária a todas as civilizações e referência
atual de todos os povos, que se construiu
para nos ajudar a nos localizar no mundo, tanto
no que se refere às variáveis geométricas que esta
localização exige, quanto aos aspectos qualitativos
que definem nosso lugar em cada uma das tarefas
ou processos em que estamos inseridos.
Para que possamos compreender um pouco
melhor tudo isso, temos de apontar algumas referências
em relação a dois temas distintos, mas
intercomplementares: o significado de “escola” e
por que nossa disciplina se tornou presença praticamente

obrigatória na maioria delas.

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