quinta-feira, 3 de julho de 2014

Apresentação do volume

 É assim como se a rocha dilatada
Fosse uma concentração de tempos
Chico Buarque, Morro Dois Irmãos



Chico Buarque de Holanda, em mais uma de suas
obras geniais, coloca-se como o “observador
externo” do Morro Dois Irmãos, na cidade
do Rio de Janeiro. Usando os recursos
que frequentemente só estão disponíveis
aos poetas, o compositor nos possibilita
observar que a “rocha dilatada” é assim
como uma “concentração de tempos”.
Deixemos de lado a beleza plástica
desses versos e nos concentremos na
razão de tê-los colocado como epígrafe
desta seção. A origem de
uma escolha assim é certo tipo
de crença: desesperada e cotidianamente,
procuramos compreender
e sistematizar o mundo
que – mesmo involuntariamente –
percebemos. Nesse esforço, a relação
entre espaço e tempo – e, portanto, a noção
de lugar – é aquela que mais nos oferece a 
sensação de pertencimento, de estarmos
no mundo e, portanto, vivos.
Assim, obviamente na minha leitura, na imponência das 
formas, o sentido de as coisas existirem como lugar 
toma conta de nossas tentativas
de olhar o mundo e, mais que isso, diz algo sobre ele.
O Volume 1 desta obra é, na verdade, uma tentativa de 
realizar esse exercício: considerar
o mundo por suas formas e, ao reconhecê-las, 
evidenciar os processos que nos possibilitam
compreendê-las como “coisas do mundo”.
Assim, o que você encontrará é uma grande 
quantidade de imagens delimitando e inspirando 
textos que querem discutir e evidenciar o conjunto 
de determinações que nos daria condições de explicar 
a geografia dos lugares.
Do ciclo das rochas à formação dos centros de alta pressão, 
das grandes correntes marítimas à distribuição
dos desertos e florestas, um grande painel de lugares, 
processos e inter-relações foi construído para que,
ao desvendarmos seus significados e as maneiras pelas 
quais se interdeterminam, tenhamos disponíveis as
ferramentas mais básicas para a construção do discurso 
geográfico, a princípio o recurso de que dispomos

para nos aproximarmos do olhar do poeta.

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