quarta-feira, 2 de julho de 2014

Os disciplinamentos da interdisciplinaridade.

Se todas as disciplinas têm uma tradição e,
dentro dessa tradição, seus conteúdos nos ensinam
como devemos organizar nossas dúvidas e
a busca de respostas, então, para que serve a interdisciplinaridade?
Será que tal prática não nos
leva, na melhor das hipóteses, à superposição de
conhecimentos, sem ordenamento, sem objetivo?
Isto é, seria a prática interdisciplinar uma fonte de
confusão conceitual, oferecendo aos alunos muito
mais um amontoado de saberes do que uma ordenação
do pensamento?
A resposta a tais perguntas vai depender, sempre,
de como praticamos a interdisciplinaridade e,
portanto, como compreendemos seu significado.
As propostas de práticas interdisciplinares surgiram
pela constatação de que as diferentes disciplinas
escolares, quando da apresentação de seus
conteúdos em sala de aula ou nos livros didáticos,
tinham a aparência de verdadeiros “pacotes fechados”
sem nenhuma relação entre si identificável pelos
alunos. Tais fragmentações se desdobrariam na
condição de que, apesar de tantos anos de bancos
escolares, os alunos receberiam seu diploma sem
ter conseguido construir um quadro minimamente
coerente do mundo. Na medida em que o aluno
dificilmente conseguiria perceber o vínculo entre
as disciplinas, o resultado seria um formando cheio
de saberes fragmentados, que dificilmente poderiam
ser utilizados fora dos bancos escolares.
O problema não é simples de resolver. Muitos foram
os caminhos trilhados, e as dificuldades obrigaram
a novas experiências. Algo, no entanto, permaneceu:
a interdisciplinaridade não se constrói pelo
embaralhamento dos objetivos pedagógicos e lógicos
contidos nas tradições das diferentes disciplinas.
Trata-se, na verdade, da possibilidade de observarmos
um mesmo fenômeno com diferentes olhares e
proporcionarmos aos nossos alunos a experiência de
transitar por diferentes discursos (e, portanto, por
parâmetros lógicos) para abordar um único fenômeno.
Com isso, mostramos, primeiramente, que ele
pode ser visto por diversos ângulos e, fundamentalmente,
que uma única experiência humana nos
provoca diferentes dúvidas, obriga-nos ao desenvolvimento
de diferentes saberes, à apropriação das
mais diversas técnicas e assim por diante.
As experiências interdisciplinares desta obra
estão, em sua totalidade, associadas a essas ideias.
Quando aprendemos mais da Química, da Física,
da Biologia ou da Literatura, das Artes, da Filosofia
e da História, temos melhores condições de aprender
Geografia. O caminho inverso é, sem dúvida,
verdadeiro. Temos, ainda, a necessidade de compreender
cada uma dessas disciplinas, porque elas
representam as diferentes dúvidas que historicamente
fomos construindo enquanto constituíamos
nossa civilização. Estudar cada uma delas é mergulhar,
profundamente, na maneira de ser e pensar
da sociedade à qual pertencemos. Isso significa
que tais identidades não podem se confundir, mas,
ao mesmo tempo, o uso dos diferentes discursos
no desvendamento de um único tema nos ajuda a
pensar e desenvolver o fato de que todos os conhecimentos
das disciplinas foram desenvolvidos pela
mesma humanidade, à qual pertencemos, e todos
eles apresentam as perguntas fundamentais, cujas

respostas nos auxiliam a entender quem somos.

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