Apresentação da unidade
Na terceira unidade, a
noção de escala é assumida
como condição metodológica
para a compreensão
da “geograficidade” do
mundo.
Colocamos em evidência as
diferentes maneiras
que temos de olhar o mundo
e o fato de que, dependendo
das referências que usamos,
as opiniões que
acabamos construindo podem
ser muito diferentes
das de outras pessoas –
independentemente de o
mundo ser apenas um. Mais
do que provocar simples
divergências de opinião, a
falta de informação
nos leva a ter profundos
preconceitos e, pelo fato
de eles falsearem
profundamente a realidade, impedem-
nos de tomar decisões
sensatas em relação
à diversidade de situações
que compõem o mundo.
Ver o mundo em diferentes escalas
exige a
obtenção do máximo de
informações possível e
o desenvolvimento de uma
maneira de organizar
tanto as informações como
nosso distanciamento
delas. É por isso que
precisamos, sempre, estudar...
Olhar de longe e olhar de
perto requer um esforço
de ordem
teórico-metodológica de apropriação
das duas dimensões básicas
que envolvem a compreensão
do significado de escala.
O primeiro aspecto,
aparentemente mais clássico,
envolve a apropriação de
recursos de ordem
matemática para se ajustar
o olhar. A ideia de estar
próximo, vendo detalhes, ou
longe, vendo a generalidade,
acaba sendo sistematizada
quando observamos
um conjunto de mapas nos
quais tudo,
da fábrica de automóveis ao
asfaltamento de ruas,
pode ser compreendido
apenas se suas diversas dimensões
forem articuladas.
O segundo, de caráter
aparentemente mais subjetivo,
procura desvendar a
dimensão escalar como
um posicionamento
ideológico dos sujeitos e que,
portanto, deve levar em
consideração a escala de
interesses de cada um de
nós. É justamente aí que
o olhar de perto e o olhar
de longe se fundem –
essa fusão é uma das
condições para a superação de
nossos preconceitos
(olhares) a respeito do mundo.
Os exemplos se multiplicam
para preparar o
caminho que nos
possibilitará identificar os preconceitos
embutidos no próprio
vocabulário de
que dispomos para falar do
mundo – o objetivo
dessa discussão é levar o
aluno a se preocupar
com o significado daquilo
que diz, escreve, pensa
e, portanto, imagina que
sabe. Assim, categorias
como Oriente, Ocidente, civilização
ocidental e
oriental, Norte, Sul ou,
mesmo, a noção de PIB per
capita vão sendo
evidenciadas para que se possa
discutir a ambiguidade de
seus significados.
Na continuidade, algumas
das inferências e proposições
que foram sendo repetidas
em todos os
capítulos anteriores
adquirem caráter mais explícito:
a relação entre o processo
de apropriação humana
do planeta e a definição
das geografias construídas a
partir daí. A ideia é, com
exemplos como as diferenças
linguísticas, identificar a
distribuição territorial
das identidades culturais
e, na busca de alguns parâmetros
de compreensão, evidenciar,
partindo de suas
origens no continente
africano, o movimento geral
de humanização da natureza.
O tema que se iniciou com a
diversidade linguística
se aprofundará na
diversidade religiosa.
A escolha é mais que
proposital: nos debates contemporâneos,
as identidades religiosas e
raciais
têm se tornado fonte
inesgotável de justificativas
para a guerra e para a
proliferação de discursos,
que propõem, e alguns até preveem, o
fim das civilizações
tal como as conhecemos.
Depois de observarmos que a humanidade
surgiu na África, que, ao espalhar-se
pelo planeta,
foi construindo diferentes culturas e
que, enquanto
transformava o mundo, também se
adaptava
a diferentes ambientes, o passo
seguinte é reconhecer
o movimento, iniciado com a expansão
mercantil e o colonialismo global, de
reunificação
da humanidade sob relações sociais
relativamente
semelhantes. Trata-se, de fato, de um
esforço distante
do fim, mas que tem se realizado – às
vezes
em nome do progresso e da civilização,
às vezes,
em nome de ideais religiosos – em meio
a muita
violência e preconceitos.
A unidade termina discutindo os
preconceitos
mais evidentes no cotidiano do Brasil.
Seus sujeitos
são evidenciados em razão das
identidades que
constroem para si mesmos, isto é, da
maneira pela
qual indígenas, brancos, negros,
mulheres, homossexuais
e tantos outros falam de si mesmos.
A seção Pausa para pesquisa aborda a
questão
da escala por meio de um
longa-metragem, Babel,
de Alejandro Iñarritu. Na seção Outros
olhares, reproduzimos
a entrevista que fizemos com um casal
(ela brasileira e ele alemão) que
resolveu conhecer a
Índia. Trata-se de um diálogo leve e
carregado de
subjetividades, que achamos importante
publicar
na intenção de que os alunos reflitam
sobre várias
sensações, como medos e deslumbramentos
ante
o desconhecido.
Em Preste atenção nos mapas, procuramos
mostrar que o desenvolvimento do
conhecimento é
uma fusão entre a sistematização e a aplicação
técnica,
associadas à experiência e ao
enfrentamento
dos desafios. Assim é que os mapas
foram se tornando
cada vez mais parecidos com aqueles que
hoje povoam nossa imaginação.
Objetivos pedagógicos
Se, do ponto de vista
temático, esta unidade se mostra
“divisora de águas” em
relação às anteriores, do ponto
de vista pedagógico, ela é
pura continuidade.
Seus principais objetivos
são:
Relacionar fundamentos
geográficos e de linguagem
As ideias centrais permanecem e,
portanto, o que se explicita
é a relação entre localização e
significado (o fundamento
geográfico) e a relação entre
cartografia e sistematização
(o fundamento linguístico).
Abordar os fenômenos em escala
A dimensão escalar, típica do discurso
geográfico, foi destacada
para que os exercícios alfabetizadores
pudessem
continuar. A noção de preconceito foi
tematizada para
que o jogo de significações desse
consistência ao processo
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